A utilização de variedades de soja com tecnologias Bt (Bacillus Thuringiensis), como exemplo Intacta, Xtend e Conquesta, representa cerca mais de 80% da área de soja plantada no Brasil. Estes materiais de soja foram inseridos proteínas Cry derivadas da bactéria B. thuringiensis, que conferem à soja resistência às principais lagartas associadas à cultura, como a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e espécies do gênero Helicoverpa.
A adoção desta tecnologia nas lavouras reduziu a utilização de inseticidas no controle das pragas acima citadas, assim, algumas pragas que antes eram consideradas secundárias e controladas pelos inseticidas utilizados no controle das lagartas, se tornaram cada vez mais frequentes nas lavouras. Como exemplo, os tripes vem sendo recorrentes nos cultivos de soja.
Os tripes, pertencem a ordem Thysanoptera, e a principal característica da ordem são as asas franjadas. Estes insetos são diminutos (1,5-3,0 mm de comprimento), as fêmeas depositam os ovos no interior da folha (postura endolítica) e após a eclosão a fase jovem possui três fases (ínstares) até atingir a fase adulta entre oito e nove dias. Esta alta capacidade de se reproduzir em curto período de tempo, permite um rápido aumento populacional, além disso, a polifagia (se alimentam de diferentes espécies de plantas) é outro fator que amplia a capacidade de aumento da população do inseto pois se multiplicam em culturas como tomate, pimentão, feijão, melancia entre outras quando a cultura da soja não está presente.
Estes insetos são encontrados nas plantas de soja principalmente nas flores e folhas mais jovens. Seu aparelho bucal é sugador labial triqueta (raspador sugador) que se caracteriza em raspar a superfície foliar e sugar a seiva que extravasa, alimentando-se da seiva das plantas, como consequência, provoca o dobramento dos bordos foliares para cima e a descoloração esbranquiçada/prateada das folhas, causando danos diretos nas plantas pela alimentação e injeção de toxinas. Em alguns casos podem ainda transmitir viroses de forma indireta e ainda onde os insetos se alimentam é via de entrada de agentes causadores de doenças (fungos, vírus, bactérias).
Os principais gêneros encontrados na soja são Caliothrips, Frankliniella e Thrips, sendo as espécies Caliothrips braziliensis e Frankliniella schultzei as mais encontradas na cultura da soja e mais perceptíveis em períodos de estiagem, já que seus danos se tornam mais perceptíveis e podem causar sérios prejuízos. A deficiência hídrica contribui para o aumento populacional, pois as plantas ficam mais susceptíveis ao ataque e além disso a população é suprimida naturalmente pelas chuvas.
Recentemente, foram encontrados em algumas lavouras de soja na região do município de Paragominas elevados níveis populacionais de tripes, acredita-se que as causas se referem ao déficit hídrico a e a redução do uso de inseticidas no controle de lagartas pela adoção de soja Bt, onde as pragas secundárias se tornaram (ão) mais comuns. No entanto, com o retorno constante da precipitação, as plantas de soja de tornam mais tolerantes e também pode ocasionar a morte das formas juvenis do inseto, auxiliando na supressão da população infestante.
Dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP) o monitoramento das pragas é chave para o manejo, pois além de indicar a presença ou ausência na lavoura, permite detectar tendências sazonais de aumento populacional e para avaliar a eficácia das estratégias de manejo implementadas.
Dentre as táticas de controle, o uso de inseticidas é o mais utilizado no controle da praga. Os principais ingredientes ativos registrados para o controle são acefatos (organofosforados), clorfenapir (análogo de pirazol), imidacloprido (neonicotinóide) e permetrina (piretroide). Como recomendação, deve-se atentar para o momento de aplicação, dose, intervalo adequado e número máximo de aplicações recomendadas na bula pelo fabricante. Não é indicada a aplicação preventiva de inseticidas químicos, pois, além do risco ambiental, aplicações desnecessárias elevam os custos da lavoura e contribuem para o desequilíbrio populacional dos insetos. Além disso, a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação é de fundamental importância para a implementação de um efetivo programa de Manejo da Resistência de Insetos, e reduzem a seleção de insetos resistentes.
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Texto elaborado por
Ingrid Schimidt Kaiser
Eng. Agrônoma e doutora em Entomologia
Referências:
Souza, S. A. Suscetibilidade de populações de tripes a inseticidas e efeito da utilização de espinosina, piretroide e sulfoxamina em Caliothrips phaseoli (Hood) (Thysanoptera: Thripidae) na cultura da soja. Dissertação (Mestrado em Agronomia). Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp Campus de Botucatu. Botucatu, p. 83. 2021.
Boiça Júnior, A. L. et al. Infestation of Caliothrips phaseoli (Thysanoptera: Thripidae) on bean cultivars grown in the winter, rainy, and dry seasons in Brazil. Environmental entomology, v. 44, n. 4, p. 1139-1148, 2015.
SALVADORI, J. R. et. al. Pragas ocasionais em lavouras de soja no Rio Grande do Sul. Infoteca-e (Repositório de Informação Tecnológica da Embrapa). Disponível em: <https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/852548/1/pdo91.pdf>. Acesso em 04 de fevereiro de 2023.
Ribeiro, F. S. Tripes na cultura da soja: Principais cuidados no manejo. UFSM – PET Agronomia. Disponível em: https://www.ufsm.br/pet/agronomia/2021/06/29/tripes-na-cultura-da-soja-principais-cuidados-no-manejo. Acesso em 04 de fevereiro de 2023.